Do drama que se vê na tela ao drama fora dela, tudo em “Emília Pérez” é exacerbado como em uma ópera, um melodrama, um musical. A propósito, para tentar entender o fenômeno em que o longa se tornou, é primordial entender o que o filme não é. E é Audiard, mais uma vez, quem tenta explicar: “Não posso dizer que é uma comédia musical. A gente não tem muito vocabulário em francês para isso. Os americanos diriam que é um musical. Isso não me satisfaz também. A palavra mais correta é ‘melodrama’, ou seja, um drama com música.”Em tempo, desde Cannes, onde levou dois prêmios (algo raro de acontecer), Audiard comenta que sua ideia inicial era transformar a história de Emília Perez em uma ópera. A ideia foi crescendo, a ideia de transformá-la em um filme ganhou corpo e o projeto cresceu. Para levantar o orçamento de um projeto caro, obviamente nomes estelares, como Selena Gomez e Zoe Saldaña, não só ajudam como são essenciais. O nome de Karla Sofía Gascón para viver a personagem-título chegou também, assim como chegou Adriana Paz, a única mexicana entre as atrizes de “Emilia Perez”. E, assim, o quarteto que leva o filme se formou e levou o inédito prêmio coletivo de melhor atriz também em Cannes. O longa levou o Prêmio do Júri, espécie de terceiro lugar. Zoe Saldana, Karla Sofía Gascón e Selena Gomez em cena de “Emilia Pérez”, indicado a 13 Oscars Imagem: Divulgação / Paris FilmesNa trama, Rita (Saldana), uma advogada brilhante e cansada de nunca ter o reconhecimento que merece nos casos difíceis que ajuda seu chefe a defender envolvendo ricos criminosos, recebe uma proposta suspeita, mas sedutora: ajudar o narcotraficante mais temido do México a realizar um sonho de infância, passar por um processo de redesignação de gênero e auxiliá-lo a também mudar de nome e de vida. Em troca, vai receber milhões em uma conta nas Ilhas Cayman e, finalmente, ter a vida que sonhou. Para tornar tudo mais intenso, é um drama musical que não deve nada às mais barrocas novelas mexicanas.Esse caldeirão de gêneros está longe de ser uma obra-prima e poderia dar muito errado, mas, incrivelmente, funciona. Obviamente, há várias arestas, como a questão de ritmo, a estrutura de atos da ópera e a falta de profundidade das personagens, para falar das que saltam mais aos olhos. Sem contar a construção de Emilia e o final (sem spoilers) que transita entre o olhar estrangeiro e a alegoria do que se acha que é a cultura da América Latina. Mas, ainda que haja quem não embarque de forma alguma na viagem proposta pelo diretor francês, esse andar na corda bamba entre o ridículo, o melodrama, a ópera e o musical, com um pé no thriller de ação que faz de “Emília Perez” um exemplar único.Mas quando começou a onda de críticas às arestas que o filme tem? Não há uma data precisa, mas, claramente, cresceu na medida em que o filme foi ganhando projeção e prêmios. As indicações para os principais prêmios da temporada, como Globo de Ouro, Critics Choice, Bafta, e, finalmente, o Oscar só fizeram a projeção aumentar e as críticas também.
Fonte: www.uol.com.br
![diretor do filme explica o que o atraiu na história](https://terrafm94.com.br/wp-content/uploads/2025/02/jacques-audiard-diretor-de-emilia-perez-que-concorre-a-13-oscars-1738784991788_v2_615x300.png)