A novela das 18h, “Êta Mundo Melhor!“, estreou na tela da TV Globo na segunda-feira (30) e já se tornou alvo de polêmica. Nesta quinta-feira (3), entidades que representam a comunidade cigana no Brasil enviaram uma carta à emissora repudiando a representação da personagem cigana interpretada por Cristiane Amorim. No comunicado, os grupos lamentam a forma como os povos ciganos foram retratados no folhetim assinado por Walcyr Carrasco e Mauro Wilson.
A cena em questão envolve a personagem Carmem (Amorim), uma cigana que entrega um bebê à golpista Zulma (Heloisa Périssé). Após a exibição do capítulo, as organizações Urban Nômades Brasil, Instituto Cigano do Brasil (ICB), International Romani Union Brasil (IRU) e Associação Mayle Sara Kali Brasil (AMSK) vieram a público acusar a emissora de racismo. Além disso, o grupo destacou que a cena “reforça um estereótipo” nocivo à comunidade cigana. Cigana Carmem (Cristiane Amorim) em “Êta Mundo Melhor!”. (Foto: Globo/ Fábio Rocha)
O comunicado, direcionado à sociedade brasileira, ao Ministério da Igualdade Racial (MIR) e à emissora, foi intitulado: “Anticiganismo é racismo, e a Globo precisa responder”. “A novela Êta Mundo Melhor! apresentou, logo em seu primeiro capítulo, uma personagem cigana que entrega um bebê a uma golpista exploradora de crianças. Essa representação não é apenas irresponsável – é racista”, afirma o documento. A carta segue criticando os estereótipos tratados na trama: “O que vimos não foi arte, foi reprodução de estereótipos cruéis e coloniais, como o mito da ‘cigana que rouba ou vende crianças’. Isso não tem base na realidade, apenas reforça um imaginário que já causou dor, perseguição e exclusão aos povos ciganos ao longo dos séculos. Isso é anticiganismo. Isso é romafobia. E sim, é racismo étnico-cultural. E é CRIME”. “A Rede Globo, como concessão pública, tem responsabilidade sobre o conteúdo que transmite. E o Estado brasileiro tem a obrigação de agir diante da propagação de imagens que marginalizam ainda mais um povo que já luta por reconhecimento, visibilidade e direitos básicos. Nunca roubamos crianças. Somos um povo de cultura, saberes e dignidade. Não queremos ser vilões exóticos de novelas. Queremos respeito”, protestou o texto. Continua depois da Publicidade Ao fim do comunicado, as quatro entidades listam uma série de exigências após a exibição da cena, incluindo: uma retratação pública da emissora, uma nota de repúdio e uma ação direta do MIR. Também pedem a inclusão efetiva dos povos ciganos nas narrativas nacionais e o fim da romantização da dor cigana como forma de entretenimento. “Está na hora de dizer: ‘Não em nosso nome’. Chega de racismo travestido de ficção. Chega de silêncio institucional. Isso é anticiganismo. Isso é romafobia. E sim, isso é racismo étnico-cultural”, finalizam. Procurada pela equipe do hugogloss.com, a assessoria de imprensa da Globo ainda não se manifestou. O espaço segue aberto caso a emissora deseje se posicionar.
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Fonte: hugogloss.uol.com.br