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Desde que a demissão de Rodrigo Bocardi da Globo foi anunciada, nesta quinta-feira (30), muito se especulou sobre os motivos da decisão. Geralmente discreta nos desligamentos, a emissora fez questão de frisar que o jornalista foi demitido por “descumprir normas éticas do Jornalismo da Globo“. O caso foi parar no setor de compliance da empresa.

Bocardi entrou como editor de texto no canal, em 1999, e traçou uma trajetória impressionante. Foi repórter, correspondente internacional, âncora do “Bom Dia São Paulo” e substituto de William Bonner nas folgas do titular do “Jornal Nacional”. Ele gozava de prestígio e de audiência, de forma que uma demissão sumária era impensada por telespectadores. Mas afinal, o que teria acontecido? Nas últimas horas da noite de ontem, colunistas especializados em TV se debruçaram sobre o caso para tentar responder a essa pergunta. Assédio moral Segundo Flávio Ricco, do portal de Leo Dias, pessoas nos bastidores da emissora relataram que teria envolvido “episódio de assédio moral”. Ricco salientou que “são muitos os comentários nos bastidores da casa, em São Paulo” relacionados a um possível assédio. Ele também destacou que “diferentes interpretações” estão sendo tomadas após o desligamento de Bocardi partir de uma questão de compliance. O canal já informou que não irá comentar o assunto.
Festa com político e reportagem exibida Já Cadu Safner, também do portal de Leo Dias, disse que a ida do jornalista a uma festa de aniversário na casa de Paulo Wiazowski Filho (PP), o Paulinho, pode ter sido o principal indício da demissão. Paulinho é o prefeito recém-eleito de Mongaguá, em São Paulo, e realizou o encontro em novembro de 2024, reunindo outros políticos. Conforme Safner, a festa ocorreu poucos dias após as eleições. Bocardi teria participado da comemoração, que teve grande repercussão, e registros em fotos postados nas redes sociais dos convidados. Em uma delas, o antigo âncora do “Bom Dia São Paulo” posou ao lado do político do Partido Progressista. O portal também citou uma visita que Rodrigo teria feito à cidade de Mongaguá em 23 de janeiro deste ano. Na mesma semana, teria sido levada ao ar, uma reportagem sobre Mongaguá no “Bom Dia São Paulo”. Rodrigo Bocardi ao lado do prefeito de Mongaguá, Paulo Wiazowski (Foto: Reprodução/Instagram) Continua depois da Publicidade Publicidades de empresa própria Uma terceira especulação sobre o caso estaria relacionada a uma empresa em que Bocardi e sua mulher, Ana Cláudia Bernardino Bocardi, são sócios. De acordo com o jornalista Gabriel de Oliveira, do TV Pop, trata-se da Digital 720 Ltda., que tem como uma de suas especializações, a “produção de filmes para publicidade”. Gabriel reportou que a produtora aparece em uma lista de beneficiários do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos, o Perse, criado em 2021 pelo antigo presidente Jair Bolsonaro. Com base em dados públicos, disponibilizados pelo Governo Federal, a reportagem divulgou que a Digital 720 supostamente economizou R$ 317.729,00 nos últimos anos. O valor seria quase 200 vezes maior que o capital social da companhia. Globo informou que Bocardi foi demitido após descumprir normas éticas do jornalismo da emissora (Foto: Reprodução/Globo) Continua depois da Publicidade Segundo o jornalista, Bocardi e Ana declararam para a Junta Comercial de São Paulo que a empresa era avaliada em apenas R$ 2.000,00. O montante estaria relacionado aos valores de impostos que deveriam ser pagos pela Digital 720 até o final de setembro de 2024. Contudo, ao entrar no Perse, a produtora não precisaria mais arcar com a integridade dos pagamentos de PIS (voltado para a diminuição da desigualdade social no Brasil), Cofins (contribuição para o financiamento da Seguridade Social), IRPJ (calculado sobre a renda da pessoa jurídica) e CSLL (contribuição sobre o lucro líquido da empresa). Por fim, Gabriel salientou como a especialização da empresa vai contra as normas estabelecidas pela Globo. Os princípios editoriais do conglomerado, divulgados oficialmente em 2011, “vetam que jornalistas das empresas da companhia se envolvam com ações publicitárias que não tenham relação com o canal”. Ou seja, publicidades para a própria TV Globo e para o g1 seriam permitidas, mas não para quaisquer outras empresas. Continua depois da Publicidade Serviços terceirizados Já Gabriel Vaquer, da Folha de S. Paulo, apurou que em paralelo ao trabalho na Globo, Bocardi teria sido reportado por prestar serviços de comunicação para uma empresa que atende contas públicas, incluindo as de prefeituras da região da grande São Paulo. Segundo o F5, o comunicador também prestaria serviços de media training, preparando políticos e empresários para aparecerem na própria Globo. O jornal acrescentou que, nos bastidores, fala-se também no vazamento de informações internas da emissora.

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