A cantora, atriz e empresária brasileira Preta Gil faleceu neste domingo (20), aos 50 anos. A filha de Gilberto Gil estava em tratamento contra o câncer nos Estados Unidos. No entanto, seu estado de saúde se agravou significativamente desde a última quarta-feira (16).
De acordo com Fábia Oliveira, do portal Metrópoles, Preta foi a uma clínica para uma nova sessão de quimioterapia, mas acabou passando mal. No local, a artista foi submetida a exames pela equipe médica que a acompanhava, que constatou que a doença havia avançado. Preta Gil tinha 50 anos e deixa o filho Francisco, do relacionamento com o ator Otávio Müller. Francisco, por sua vez, é pai de Sol de Maria, neta de Preta. A cantora e atriz Preta Gil faleceu aos 50 anos, neste domingo (20). (Foto: Victor Chapetta / AgNews) Continua depois da Publicidade Resiliência desde o nome Filha do ícone da MPB, Gilberto Gil, e de Sandra Gadelha, Preta Gil nasceu em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro — dois anos após seu pai retornar do exílio em Londres durante a ditadura militar no Brasil. Atriz, cantora, empresária e apresentadora, Preta sempre se destacou não apenas pelo talento, mas também por sua postura combativa e sua representatividade como mulher preta, bissexual e fora dos padrões estéticos convencionais. Desde cedo, ela falou abertamente sobre os preconceitos que enfrentou e usou sua visibilidade para combater o racismo, a gordofobia e a homofobia. “Costumo dizer que eu era a Preta no mundinho da Tropicália, achava que as pessoas eram como a minha família. O mundo não era assim”, relembrou em entrevista à Forbes. Um dos episódios marcantes de sua história aconteceu ainda no cartório. Quando Gilberto Gil foi registrá-la, o tabelião recusou o nome “Preta”. Gilberto e a avó materna de Preta, Wangry, argumentaram que nomes como Branca e Clara eram comuns. “Se fosse Branca, Rosa ou Clara, pode? Acho que a senhora já registrou muitas”, rebateu o músico. O tabelião só aceitou registrar após a inclusão de um nome católico, e a avó sugeriu “Preta Maria”. A infância de Preta foi dividida entre o Rio de Janeiro e Salvador, após a separação dos pais. Ela é a quarta filha de Gilberto Gil, entre sete irmãos. Cresceu cercada pela cultura da Tropicália e pelos maiores nomes da música e da arte brasileira. Sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa, essa convivência moldou sua personalidade artística e sua visão de mundo. Desde cedo, Preta foi uma voz ativa na luta contra o racismo, a gordofobia e a LGBTQIA+fobia. Em sua autobiografia, ela relembrou ter sido expulsa do tradicional Colégio Andrews, no Rio, após protestar contra uma fala homofóbica de uma professora que associou homossexualidade a doenças. Preta e a amiga Amora Mautner, hoje diretora da TV Globo, reagiram com um beijo em sala de aula. “Não se falava de homofobia há 30 anos, mas aquilo bateu errado em mim. Nos olhamos e falamos: ‘Não vai ficar por isso não’”, contou. Ela também enfrentou o racismo na escola. Em um episódio, Sandra Gadelha precisou intervir após a mãe de uma colega chamar os filhos de Gil de “macacos”. “Era motivo de chacota pelo meu nome. Com quatro anos, pedi para minha mãe me chamar de Priscila. Além disso, sofri preconceito por ser filha de um preto famoso que foi exilado durante a ditadura”, disse Preta em uma live da revista Vogue, em 2020. Preta Gil trilhou caminho multifacetado nas artes e se engajou em causas sociais ao longo da vida (Foto: Globo/Divulgação) Continua depois da Publicidade Após a morte de um irmão, Preta voltou a viver no Rio, ao lado da mãe. Estudou teatro na Casa de Artes de Laranjeiras (CAL) e, aos 20 anos, casou-se com o ator Otávio Müller, com quem teve seu único filho, Francisco Gil. Depois, Preta viveu outros relacionamentos públicos: foi casada com Rafael Dragaud, que ela definia como “o marido que mais a elogiava”, depois com o mergulhador Carlos Henrique Lima (entre 2009 e 2013), e, em 2015, com Rodrigo Godoy, de quem se separou após oito anos. Vida na arte Embora tivesse a música no sangue, Preta inicialmente trilhou outros caminhos, atuando como produtora e publicitária. Trabalhou em camarotes no Carnaval de Salvador desde os 16 anos, fez estágio na agência DM9, foi sócia da Dueto Produções e, anos mais tarde, fundou a Mynd, agência de marketing de influência. Só aos 28 anos, decidiu investir de fato na carreira musical, encorajada por amigas como Ivete Sangalo e Ana Carolina. O álbum de estreia, Prêt-à-Porter (2003), estourou com o hit Sinais de Fogo, de Ana Carolina e Totonho Villeroy, mas também causou polêmica pela capa, na qual Preta posou nua. A artista encarou as críticas com naturalidade, reafirmando seu compromisso em desafiar padrões e quebrar tabus. Em 2004, ela formou o grupo Tresloucados, ao lado de Davi Moraes e Lan Lanh, reunindo canções das carreiras individuais. Depois vieram álbuns como Preta (2005), Sou Como Sou (2012) e Todas as Cores (2017), este último celebrando a diversidade com parcerias de Marília Mendonça, Pabllo Vittar e Gal Costa. No audiovisual, foi incentivada por Marlene Mattos e atuou em novelas da Globo, como Agora É Que São Elas (2003) e Ti-Ti-Ti (2010), além de produções da Record, como Caminhos do Coração (2007) e Os Mutantes (2008). Preta também apresentou seus próprios programas na TV, e no cinema, integrou o elenco de longas, como “Ó Pai Ó”. A artista ainda fez história no Carnaval, com o “Bloco da Preta”, um dos maiores da folia carioca. Preta Gil foi destaque na música, na televisão, no cinema, na publicidade e no Carnaval (Foto: Webert Belecio / AgNews) Continua depois da Publicidade O diagnóstico Em janeiro de 2023, Preta revelou o diagnóstico de câncer de intestino, um adenocarcinoma descoberto após internação por desconfortos intestinais. Ela enfrentou quimioterapia, radioterapia, cirurgias e uma grave infecção generalizada (sepse), que a levou à UTI. “Quando fazia as fezes, era com sangue, com muco, tinha formato diferente, e eu achava normal. Você que está em casa e acha nojento, não é! É importante olhar para as fezes”, alertou no programa Mais Você. “Se eu estivesse em casa, não estaria mais aqui”, contou ao Conversa com Bial. Em dezembro de 2023, anunciou a remissão da doença após cirurgia de reconstrução intestinal e reversão da ileostomia. A remissão, no entanto, não significa cura — é necessário que se mantenha por pelo menos cinco anos. Gilberto e Preta Gil (Foto: Reprodução/Instagram) Infelizmente, em agosto de 2024, novos tumores foram identificados: em dois linfonodos, uma metástase no peritônio e uma lesão no ureter. “Eu tive um câncer no intestino, tratei, me curei dele, fui liberada pelos médicos para uma vida próxima da normalidade. Estava indo muito bem na reabilitação, mas exames periódicos mostraram que o câncer voltou”, declarou Preta. Com coragem e transparência, ela continuou usando sua voz para conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Ficam aqui os nossos sentimentos e nossa força aos familiares, amigos e fãs de Preta Gil.
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Fonte: hugogloss.uol.com.br